Teahupo’o nunca está para brincadeiras. Este é o nome da onda com personalidade difícil, com traços de tsunami, tal é a massa de água que forma no Tahiti, ao largo da maior ilha da Polinésia Francesa. É do tipo de lugares no mar que assusta só de ver e chega para (quem não faz surf) chamar malucos aos homens e mulheres que lá se aventuram, de pé, em cima de uma prancha. Porque o que veem são pessoas a surfarem uma onda que, às vezes, toca nos sete metros de altura e, por baixo, a cerca de meio metro de profundidade, tem sempre um recife de coral. A moral desta descrição é uma: maluquices e parafusos desapertados à parte, é preciso muita coragem para alguém se enfiar numa onda destas. Niccolo Porcella foi um dos que se encheu dela. Este italiano nascido em Maui, a segunda maior ilha no Havai, dá-se com o mar e as ondas desde pequenote. Não é nem nunca foi dos nomes que andam no circuito mundial de surf. Fez-se profissional antes do kyte surf, do desporto em que se está em cima de uma prancha, sim, mas à boleia de uma vela, que o puxa ao sabor do vento. Aos 27 anos, aprendeu a viver com a companhia da adrenalina. Prefere não passar um dia sem a sentir. Com o tempo, e além do cliff-jumping (saltar de penhascos), foi-se arriscando no surf. E treinou uma década para, no dia em que estivesse à frente de uma onda em Teahupo’o, o sonho lhe corresse como o imaginara. Até começou por ser assim. Niccolo saltou para a água e a coragem valeu-lhe para apanhar cinco ondas. Foi, colocou-se em pé, surfou-as e acabou sempre a sorrir. Até que veio a sexta, a que lhe trouxe o pesadelo. O italiano agarrou-se ao cabo puxado por uma mota de água, levantou-se na prancha, apanhou boleia da onda e é aqui que começa a história. Uns três segundos depois de a surfar a água engole-lhe a prancha. O seu corpo é levado pela fome de uma massa de água com quase 10 metros de altura. “Percebi que estava muito fundo na onda, mas não podia fazer nada. A minha prancha simplesmente parou”, resumiu, palavras a denotarem boa disposição, quando conversou com a revista Surfing Life. A partir daqui tudo se embrulhou (Observador)
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