“Nos últimos seis anos, mais de 330 mil trabalhadores por conta de outrem
deixaram de constar das estatísticas de emprego do INE. A esmagadora maioria
ganhava até 600 euros por mês. Explicação: o impacto da crise nos sectores de
baixos salários, nomeadamente na construção, empurrou muita gente para a
reforma ou para a emigração. No
final de 2014, Portugal tinha 3,611 milhões de trabalhadores por conta de
outrem. São menos 338 mil (-8,57%)
que no final de 2008, quando soaram os primeiros alarmes da crise financeira.
Uma sangria sobretudo nos escalões mais baixos de rendimento:
desapareceram 505 mil pessoas com salários de 310 a 600 euros. São agora pouco
mais de 1,2 milhões, um terço de todos os trabalhadores por conta de outrem. Os
escalões com salários mais altos contam até com mais trabalhadores,
particularmente no grupo dos 1200 a 1800 euros - são mais 167 mil. "Uma grande parte destas
pessoas que desapareceu das estatísticas do emprego pura e simplesmente
emigrou. Muitos jovens mas, principalmente, os trabalhadores da construção
civil, tanto aqueles que trabalhavam diretamente no sector como os que
trabalhavam em atividades afins, como imobiliário ou jardinagem" e tinham
salários baixos, justifica Francisco Madelino, antigo presidente do IEFP. A
maioria terá ido para Angola ou para o Brasil.
João Carlos Cerejeira da Silva
partilha a mesma opinião. "O impacto da crise foi mais duro nos
sectores de baixos salários, nomeadamente a construção civil, um sector
marcado por muita informalidade em termos de salários, e que foi muito
afetado", diz o professor da Universidade do Minho e especialista em
política salarial. A indústria, construção,
energia e água contava, no final de 2014, com menos 362 mil trabalhadores do
que em 2008. "Só nos últimos três
anos emigraram 150 mil trabalhadores da construção, a maioria para países da
Europa, mas também para o Canadá, Angola e Moçambique", explica o
sindicalista Albano Ribeiro. Outra razão para esta redução
da força de trabalho é a passagem para a reforma dos trabalhadores com
mais anos, normalmente com menos formação e salários mais baixos. "Há
uma relação entre a estrutura etária, as qualificações e o rendimento
salarial", garante Cerejeira da Silva. "Os indivíduos que passam para
a reforma são, geralmente, pessoas de baixas qualificações e que receberam
baixos salários", explica o professor. A verdade é que, dos quase 5
milhões de indivíduos com 45 ou mais anos que o INE contabiliza, só 475 mil têm
o ensino secundário completo e quase dois milhões têm o primeiro ciclo do
ensino básico completo.
Começa, ainda assim, a
notar-se uma recuperação do emprego. De 2013 para 2014, o número de
trabalhadores por conta de outra aumentou em 700 mil indivíduos, ultrapassando
3,6 milhões. É de esperar que esta tendência se mantenha? "Se, sendo muito
otimista, o crescimento económico chegar aos 2%, é de prever que haja, este
ano, alguma recuperação no emprego, mas ligeira, com novos contratos feitos com
níveis salariais inferiores aos salários médios praticados no mercado",
prevê o professor da Universidade do Minho, acrescentando que "as regras
de despedimento mais flexíveis poderão também incentivar as empresas a fazerem
contratações".
Salário estagnado desde 2011
Desde a chegada da troika a
Portugal, em 2011, que o rendimento mensal líquido se mantém praticamente
inalterado. O ano passado não foi exceção:
o salário médio fixou-se nos 813 euros, valor muito próximo dos 808 euros
registados em 2011. Os serviços apresentam a média salarial mais elevada, com
842 euros, seguindo-se a indústria e construção, com 751 euros. Muito abaixo
fica a agricultura, com uma média salarial de 578 euros. A diferença salarial entre
homens e mulheres também pouco mudou. Desempenhando funções idênticas e da mesma responsabilidade, com
qualificações semelhantes, as mulheres ainda ganham menos 20,4% do que os
homens em Portugal. Ou seja, se um homem receber, por exemplo, 700 euros, uma
mulher no mesmo cargo receberá 557 euros” (fonte: Dinheiro Vivo)
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